sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O norte. - ou, A missão do ator-cidadão.

Eu quero liberdade. Quero abolição desses rótulos que nos prendem ao chão dessa sociedade mediana em que vivemos. Somos diferentes. Fomos escolhidos a dedos pelos deuses ébrios, para sermos filhos das artes; veia latente e pulsátil que nos inquieta a cada respirar a sermos mais sensíveis. É como se todo o mundo tivessem vendas nos olhos, e nós, filhos dos deuses, somos reis, pois enxergamos a pura beleza nas coisas mínimas que nem com uma lupa de aumento ou qualquer auxílio de vidro, os fariam enxergar. Somos nós, e somos lindos por isso. Eu sou exatamente aquilo que escolho ser e essa veia é que me leva. Leva-me além dos meus limites, me leva além dos muros. E há uma inquietação pessoal e especial em quebrar. Adoro destruir as coisas. Saibam.
Gosto de quebrar. Gosto de romper paradigmas, tabus e afins. Gosto. Gosto mesmo de por o dedo na ferida desses homens que se conforma com essa realidade cruel de chacinas à estupros, dos incestos aos famintos. Quem olha por esse povo?! Quem olha para essa gente?! É fácil brincar de artes com “paints et circense”; difícil é expor aos olhos dos homens tudo aquilo que eles escondem, porque a verdade dos oprimidos incomoda. Queima e lateja como uma ferida recém chegada no peito de cada um deles (os ditos “homens de bem” da nossa fabulosa sociedade). É fácil mudar de canal e não ver. É fácil passar na rua e ser hipócrita dizendo que não se tem para não dar a quem pede, mesmo tendo. Será que já passou pela cabeça de alguma dessas pessoas o quão constrangedor deve ser sobreviver de migalhas?! Vendo o mundo inteiro crescer cheio de possibilidades de futuro e ver todas essas portas fechadas para essas pessoas, que são iguaizinhas a nós?! Será que se passa na cabeça desses homens o quão perturbador deve ser numa noite chuvosa, ver milhões de pessoas voltando para os seus lares, para se proteger da chuva, e ter que dormir muitas vezes numa calçada, ou abaixo de uma ponte com seus filhos, sem uma coberta, sem um alimento?! Na minha cabeça, se passa. Ontem à noite, voltando da aula vi uma senhora dormindo numa calçada. Ela tinha a idade de ser minha mãe. E doeu-me mais do que um tiro ou uma facada, olhá-la rente aos olhos e ver que poderia ser minha mãe, dormindo numa calçada, as margens dessa sociedade hipócrita que passa todos os dias pela Avenida Conde da Boa Vista e fingem que não a enxergam. Eu tinha acabado de sair da aula de teatro. E esse sentimento de impotência veio me corroendo de lá até o caminho de casa. Me corrói até agora. E aí parei para pensar:”-Já que me denomino artista pois tento fazer arte, já que fazendo arte mobilizo pessoas de suas casas até o teatro, para que elas assistam ou apreciem o meu trabalho, o que será que eu posso fazer pra acordar esses seres humanos?! Como arrancar essas vendas dos olhos das pessoas?!” eu ainda não sei, mas eu vou descobrir. Acho que é a minha função enquanto artista-cidadã, tentar alguma melhora para a sociedade em que vivo. Eu posso não mover montanhas, mas o primeiro passo foi dado. Esse é o meu norte.

Um comentário:

céu disse...

o texto está..muito bom viu

mas vc pra mim é uma artista por completa
humanamente, poeticamente , politicamente,estruturalmente, culturamente e sensivelmente falando
:***
amo

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O norte. - ou, A missão do ator-cidadão.

Eu quero liberdade. Quero abolição desses rótulos que nos prendem ao chão dessa sociedade mediana em que vivemos. Somos diferentes. Fomos escolhidos a dedos pelos deuses ébrios, para sermos filhos das artes; veia latente e pulsátil que nos inquieta a cada respirar a sermos mais sensíveis. É como se todo o mundo tivessem vendas nos olhos, e nós, filhos dos deuses, somos reis, pois enxergamos a pura beleza nas coisas mínimas que nem com uma lupa de aumento ou qualquer auxílio de vidro, os fariam enxergar. Somos nós, e somos lindos por isso. Eu sou exatamente aquilo que escolho ser e essa veia é que me leva. Leva-me além dos meus limites, me leva além dos muros. E há uma inquietação pessoal e especial em quebrar. Adoro destruir as coisas. Saibam.
Gosto de quebrar. Gosto de romper paradigmas, tabus e afins. Gosto. Gosto mesmo de por o dedo na ferida desses homens que se conforma com essa realidade cruel de chacinas à estupros, dos incestos aos famintos. Quem olha por esse povo?! Quem olha para essa gente?! É fácil brincar de artes com “paints et circense”; difícil é expor aos olhos dos homens tudo aquilo que eles escondem, porque a verdade dos oprimidos incomoda. Queima e lateja como uma ferida recém chegada no peito de cada um deles (os ditos “homens de bem” da nossa fabulosa sociedade). É fácil mudar de canal e não ver. É fácil passar na rua e ser hipócrita dizendo que não se tem para não dar a quem pede, mesmo tendo. Será que já passou pela cabeça de alguma dessas pessoas o quão constrangedor deve ser sobreviver de migalhas?! Vendo o mundo inteiro crescer cheio de possibilidades de futuro e ver todas essas portas fechadas para essas pessoas, que são iguaizinhas a nós?! Será que se passa na cabeça desses homens o quão perturbador deve ser numa noite chuvosa, ver milhões de pessoas voltando para os seus lares, para se proteger da chuva, e ter que dormir muitas vezes numa calçada, ou abaixo de uma ponte com seus filhos, sem uma coberta, sem um alimento?! Na minha cabeça, se passa. Ontem à noite, voltando da aula vi uma senhora dormindo numa calçada. Ela tinha a idade de ser minha mãe. E doeu-me mais do que um tiro ou uma facada, olhá-la rente aos olhos e ver que poderia ser minha mãe, dormindo numa calçada, as margens dessa sociedade hipócrita que passa todos os dias pela Avenida Conde da Boa Vista e fingem que não a enxergam. Eu tinha acabado de sair da aula de teatro. E esse sentimento de impotência veio me corroendo de lá até o caminho de casa. Me corrói até agora. E aí parei para pensar:”-Já que me denomino artista pois tento fazer arte, já que fazendo arte mobilizo pessoas de suas casas até o teatro, para que elas assistam ou apreciem o meu trabalho, o que será que eu posso fazer pra acordar esses seres humanos?! Como arrancar essas vendas dos olhos das pessoas?!” eu ainda não sei, mas eu vou descobrir. Acho que é a minha função enquanto artista-cidadã, tentar alguma melhora para a sociedade em que vivo. Eu posso não mover montanhas, mas o primeiro passo foi dado. Esse é o meu norte.

Um comentário:

céu disse...

o texto está..muito bom viu

mas vc pra mim é uma artista por completa
humanamente, poeticamente , politicamente,estruturalmente, culturamente e sensivelmente falando
:***
amo

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